Bíblia desafiada por camelos (act.)

13-02-2014 17:11

                                        

                                             

O título poderia eventualmente sugerir que eu tivesse perdido a cabeça e decidido insultar alguém só porque discorda da Bíblia, mas longe de mim tal coisa.
Na verdade este é só um artigo apologético que faço devido a mais um ataque tendencioso por parte dos mídia (e outras comunidades apóstatas) à credibilidade da Bíblia. 
Escrevo-o, pois faço do mesmo um exemplo para demonstrar como certos setores dos mídia usam a mentira fácil e conclusões manipuladoras, de forma a condicionarem o pensamento de uma opinião pública que pouco ou nada questiona.
Este artigo que sirva de exemplo para demonstrar como vale tudo para afastar as pessoas da verdade.
Na última semana para deleite de alguns credos, nomeadamente ateístas, os mídia corporativos lançaram mais uma falácia com um assunto já bastante antigo e que nunca conseguiram provar:

Origem dos camelos mostra erro na Bíblia, diz estudo

"Segundo um estudo realizado por arqueólogos da Universidade de Tel Aviv, os primeiros camelos domesticados são do fim do século X a.C. - séculos depois de Abraão e décadas depois do Rei Davi.

O erro histórico é uma evidência de que a Bíblia foi escrita ou editada muito tempo após os eventos narrados, e suas histórias nem sempre são confiáveis. O livro de Gênesis, por exemplo, diz que um servo de Abraão viajou a camelo para encontrar uma mulher para Isaac.

O estudo sobre a origem dos camelos é assinado pelos pesquisadores Erez Ben-Yosef e Lidar Sapir-Hen, que usaram datação por radiocarbono para apontar quando surgiram os camelos domesticados. Os ossos dos animais foram encontrados em um antigo campo de fundição de cobre no Vale de Aravah, em Israel, e em Wadi Finan, na Jordânia.

Alguns ossos encontrados em sedimentos mais profundos, segundo os cientistas, seriam de camelos selvagens caçados para a alimentação. Foi possível diferenciá-los dos domesticados porque nestes havia marcas nos ossos das patas, supostamente um sinal de que carregavam cargas pesadas.

Para os pesquisadores, a origem dos camelos domesticados foi o Vale de Aravah. Os egípcios exploraram o cobre na região e provavelmente usaram estes animais no trabalho. Antes, os responsáveis pelo transporte de grandes materiais eram mulas e burros."

https://oglobo.globo.com/ciencia/historia/origem-dos-camelos-mostra-erro-na-biblia-diz-estudo-11573807#ixzz2tDG9Ha5Q
Desta vez os céticos voltaram à carga tentando dar credibilidade a esta teoria (que já é antiga mas que nunca foi provada) com;
Testes de radiocarbono 14!
E essa foi a principal razão que me levou a escrever este artigo, pois não existe melhor exemplo para demonstrar a arbitrariedade com que se usam certos argumentos para defesa de certas teorias e se esquecem esses mesmos argumentos quando estes são inconvenientes para outras.
E mesmo antes de iniciar a defesa da Bíblia, devo dizer que vi numerosos sites neo-ateístas propagandearem esta notícia deixando no ar que;
"agora é que é, com o radiocarbono 14 não há falhas, tinhamos razão, A Bíblia errou!" 
Na verdade não é com rancor que encaro tal postura mas sim com pena de quem ainda se tenta convencer de uma mentira tentando ofuscar A Verdade.

Todos os neo-ateus que defendenderam convenientemente esta "teoria dos camelos" com os testes de radiocarbono 14, deviam saber que
Esse mesmo método de datação destrói por completo a sua amada e intocável “teoria da evolução das espécies”, conforme exposto e PROVADO IRREFUTAVELMENTE noutro artigo (1), pelo que, só daqui se vê o facciosismo e até hipocrisia de quem utiliza esta notícia para defender teses ateístas.

Mas vamos então analisar os argumentos da notícia;

Segundo esta, os testes realizados numa pequena e circunscrita região, SUPOSTAMENTE (conforme pode ser lido na notícia) provam que (devido às marcas nos ossos dos camelos) estes só podem ter sido domesticados após a época dos patriarcas bíblicos, segundo eles sempre após 1000 a.C.

Abraão viveu entre 2000 e 1850 a.C. e era originário da antiga Suméria, hoje Iraque (2), muito longe de Israel.

Estas afirmações são feitas evidênciando uma certeza absoluta e generalizam as conclusões para todo o território no qual a história bíblica se desenrola, passando por cima de muitas outras provas arqueológicas contrárias e que nem sequer são superficialmente mencionadas, conforme veremos mais adiante...
E como podem eles afirmar e provar que as ossadas de camelos mais antigas e sem marcas, também encontradas no mesmo local, eram de camelos selvagens??? E que estes eram apenas para alimentação e nenhuma outra função "mais leve" que os faça poder ser chamados de "domesticados"?!? E que foram domesticados décadas (quantas?uma?duas?nove?) após o reinado de Davi (reinou aproximadamente em 1000 a.C.).
Por acaso os testes de datação por radiocarbono 14 são assim tão elucidativos nesse campo?!?
Ou estas são apenas suposições dos investigadores?
Só por aqui se vê que a falácia é das grandes, pois quanto a mim é de todo impossível e até irresponsável tirar tais conclusões de forma tão leviana principalmente quando existem, conforme veremos, tantas provas do contrário.
É também totalmente ignorado o facto de que todos os relatos bíblicos da era dos patriarcas abrangerem uma área de território que engloba a maior parte do médio oriente como o Egito, Iraque, etc, pelo que os costumes podem não ter sido exatamente os mesmos de região para região, e na verdade até podem ter sido originados em certo local e posteriormente passados e adotados por outras culturas com os movimentos migratórios.

E agora fatos concretos:

Antes de mais devo dizer que vou considerar o estudo e os resultados dos testes aos ossos como verdadeiros mas independentemente disso, muita informação relevante é omitida para tirar tal conclusão, como por exemplo se as datações por radiocarbono 14 foram ou não calibradas, seja como for não faltam argumentos de defesa e até de ataque.
Então como resposta simples, rápida e irrefutável eu podia simplesmente dizer:
- Na Bíblia e na época dos patriarcas, os camelos não são diretamente relatados como transportadores de cargas pesadas (transporte de grandes materiais conforme referido no artigo), pelo que tal evolução no uso de camelos durante o tempo em nada contraria os relatos bíblicos, o estudo antes pelo contrário (como veremos mais à frente) parece comprovar tais relatos, até porque as marcas que comprovam o transporte de cargas pesadas nos ossos mais recentes não seriam causadas apenas pelo transporte de seres humanos ou cargas ligeiras, podendo então os ossos mais antigos (também encontrados no mesmo local) ser de camelos usados para este fim.

Ou será que só podemos considerar os camelos domesticados se transportarem "grandes materiais"?!?

 
É que convenhamos, seria muito dificil mesmo nessa altura que se usasse apenas cavalos, mulas e burros (que têm no deserto uma capacidade muito limitada quando comparada aos camelos), em longas travessias nestas regiões inóspitas.
E só isto bastava para que a conclusão dos investigadores e do artigo jamais pudesse ser tão conclusiva como a que eles querem que seja quando afirmam com tanta certeza que "demonstraram um erro (anacronismo) na Bíblia"!
Mas esta era a resposta fácil (apesar de suficiente), no entanto vou mais longe pois a arqueologia que é no artigo totalmente omitida, destrói por completo esta notícia e as suas fáceis e falaciosas conclusões. 
Como veremos existem numerosos artefactos, esculturas, gravuras, petróglifos documentais e opiniões de peritos reputados, que demonstram como os camelos foram utilizados e domesticados, muito antes do séc. X antes de Cristo.

Demonstrarei aqui alguns exemplos e nas referências terão acesso a mais.


Figura em terracota, encontrada na região de Mênfis, pertence ao período dinástico mais antigo da história egípcia (a partir de 2700 a.C.) e atesta que o uso do camelo já tinha chegado ao Egito muito antes da conquista assíria. Observem que a figura mostra o uso de uma sela, o que indica a sua domesticação (3).

Cilindro sírio datado de 1800 a.C. em que podemos ver a montagem de camelos (4). 

Escultura de cobre datada do fim do 3º, início do 2º milênio a.C. que representa camelo com um tipo de sela e outro tipo de equipamento (do tipo do cilindro sírio acima) e que pode ser encontrada no Museu Metropolitano de Nova Iorque (4)

Petróglifo egipcio datado da 6ª dinastia (2345-2181 a.C.) e em que vemos que homens já domesticavam camelos, o que levou a concluir que “as provas existentes indicam claramente que o camelo era conhecido no Egito por volta de 3000 a.C.”, bem antes de Abraão (4)

Escultura em que existe alguma polémica na sua datação mas que dificilmente será inferior a 1000 a.C. pois inicialmente foi datada como do início do 3º milénio e que não deixa dúvidas sobre o uso de camelos domesticados nas épocas remotas do Velho Testamento (4)

 
PROVAS DOCUMENTAIS:
Nas ruínas de Mari (antiga capital situada próxima a Harran, a terra de Naor), André Parrot (5) descobriu ossos de camelo, que alguns dataram de 1500 a.C., mas que outros consideram como sendo de antes do 2º milênio a.C. Outras evidências arqueológicas relacionadas ao camelo puderam ser encontradas em Biblos (uma figura de camelo ajoelhado, entre 1900-1800 a.C.) e Nipur, na Suméria (texto falando sobre o leite de camelo fêmea, cerca de 2000 a.C.)
O livro “Na Mesopotâmia, listas cuneiformes mencionam a criatura [o camelo] e vários selos o retratam, o que indica que esse animal pode ter chegado à Mesopotâmia no começo do segundo milênio, ou seja, na época de Abraão.
 
Esta figura esculpida na rocha, no estilo das encontradas em Tibesti, no Saara, sugerem também que a domesticação do camelo passou da África para o Egito, e não através da península arábica. Ver em Chris Scarre, Smithsonian Timelines of the Ancient World (1993)

 Kenneth Anderson Kitchen (6) é professor emérito de egiptologia e membro honorário de pesquisa em arqueologia, estudos orientais e clássicos da Universidade de Liverpool, Inglaterra.

É especialista em arqueologia bíblica e do Terceiro Período Intermediário do Egito, do qual o escritor possui mais de 250 obras e artigos. Ele afirma:

 “Com frequência tem sido afirmado que a menção a camelos e sua utilização é um anacronismo no livro de Gênesis. Tal acusação simplesmente não está ao lado da verdade, visto que existem evidências tanto filológicas quanto arqueológicas no tocante ao conhecimento e à utilização desse animal nos começos do segundo milênio a.C., e mesmo antes”. Prosseguiu ele em sua explanação: “Apesar de uma possível referência a camelos, em uma lista de rações de Alalakh (cerca do século 18 a.C.), ter sido disputada, as grandes listas léxicas mesopotâmicas, que se originaram no antigo período babilônico, mostram que o camelo era conhecido desde cerca de 2000 — 1700 a.C., incluindo sua domesticação. Outrossim, um texto sumério de Nipur, pertencente ao mesmo antigo período, fornece-nos uma clara evidência da domesticação do camelo nesse tempo, através de suas alusões a leite de camela. Ossos desse animal têm sido encontrados nas ruínas de casas em Mari, pertencente ao período anterior ao rei Sargão – séculos 25 e 24 a.C. Essas e uma grande variedade de evidências não podem ser descartadas levianamente. Quanto aos começos e aos meados do segundo milênio a.C., um uso limitado do camelo é pressuposto tanto por evidências bíblicas quanto evidências externas, até o século 12 a.C.”.

Em outra obra encontramos também:

"No entanto, o egiptólogo K.A. Kitchen recusa esse argumento. O estudioso aponta como evidências achados arqueológicos como uma estatueta, da cidade de Biblos, de um camelo ajoelhado, cerca de 1900 a.C., e menções a camelos em textos sumérios que datam do começo do segundo milênio da Antiguidade. Ele conclui que camelos foram usados esporadicamente na era patriarcal, mas, em geral, apenas para viagens de longa distância. Além do mais, escavações em Shahr-i Sokhteh, no Irã oriental, descobriram bastantes fósseis de camelos em acampamentos humanos, o que levou os cientistas a defenderem que a domesticação dos camelos começou no Turcomenistão pelo menos nos idos de 2700 a.C." Na índia também foram encontrados vestígios do uso de camelos em 2300 a.C."

Fonte: Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, Robert J. Hutchinson, Agir, 2012, pgs 62-63.

Richard Bulliet (7) professor de história na universidade de Columbia nos E.U.A  afirma também no seu livro "O camelo e a roda" que existem evidências que o camelo foi domesticado por cerca de 2000 a.C. na peninsula arábica.

E na "Bíblia de estudo arqueológica" lemos ainda:

"Fragmentos de ossos e outros restos arqueológicos têm levado alguns estudiosos a postular a data do 3º milênio para a domesticação de camelos. (...) Foi descoberta uma corda trançada de pelos de camelo do período pré-dinástico egípcio. Um texto sumério refere-se ao leite de camela. Um antigo texto babilônio de Ugarite, do início do 2º milênio a.C., retrata o camelo como animal doméstico." 

Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 41.

 

  Assim, a The International Standard Bible Encyclopedia (Enciclopédia Bíblica Padrão Internacional) conclui:


 "Não é mais necessário classificar de anacronismo a menção de camelos nas narrativas patriarcais, visto que há muita evidência arqueológica da domesticação de camelos antes dos dias dos patriarcas."

 
Praticamente todos estes exemplos e muitos mais podem ser consultados neste estudo;
 Camel domestication ANE.pdf (607553)
e no site (4) das referências, e por todas elas podemos com segurança afirmar que:

As provas arqueológicas que atestam a domesticação do camelo em regiões percorridas por Abraão na data que se presume a sua existência são muito fortes e sendo assim quanto mais no tempo do Rei Davi (1000 anos depois). Elas se baseiam não apenas em esculturas que representam camelos domesticados, mas também em ossos encontrados junto a túmulos e habitações humanas e até textos que relatam que o camelo servia como fonte de alimento e meio de transporte.

E tanto é assim que não sou só eu que o digo, é que até em sites educativos como o Brasil Escola podemos ler:

"Os representantes deste gênero começaram a ser domesticados há cerca de 4500 anos, para serem utilizados como eficientes meios de transporte" (8)

Conclusão:

Mediante tantas provas arqueológicas que indicam o contrário como pode alguém que se possa considerar "isento" afirmar que a autenticidade dos relatos Bíblicos são postos em causa por conclusões tão simplistas como as destes senhores da universidade de Tel Aviv no seu estudo???
Só se realmente servirem a alguma agenda oculta ou forem muito ignorantes, pois na verdade mediante tantas provas do contrário este chega a ser um "NÃO CASO" e é só mais do mesmo! Mesmo um ateu, se estiver de boa fé, não pode fazer de conta que tudo o que aqui foi demonstrado simplesmente não existe, até porque as fontes não são todas cristãs.
E podia até ser que o uso do camelo na época dos patriarcas bíblicos não fosse assim tão comum, mas mediante tantas evidências é perfeitamente possível que familias ricas da altura (como era a de Abraão) fizesse uso dessa criatura para longas travessias pelo deserto.
Na verdade torna-se secundário esse questionamento sobre a domesticação do camelo, mesmo que não tivéssemos a opinião contrária de outros pesquisadores, nos dias que correm a problemática em datar estes fatos já é um ponto a favor da veracidade Bíblica.
É que quanto mais usam este tipo de tática falaciosa mais demostrarm quem realmente fala a verdade, caindo eles mesmos no ridículo...
Para mim este é mais um artigo da mídia a juntar ao rol de centenas de artigos que ao longo de décadas tentam destruir a Bíblia, mas que com o passar do tempo ainda mais a comprovam como fiável e um alvo a abater por parte de alguns setores que promovem um neo-ateísmo faccioso.
Se não podem deixar de volta e meia serem obrigados a dizer a verdade quando confrontados com fortes evidências (até porque ultimamente têm surgido muitas provas arqueológicas dos relatos da Bíblia-vejam os meus Tweets), com certeza não deixarão de também mentir quando tiverem a mínima chance de o fazer, dessa forma tornam tudo o mais confuso possível de forma a que “os confusos”  não entendam nada e se convençam pela mentira.
Usando táticas falaciosas e arbitrárias que ao mesmo tempo destroem outras das suas próprias teorias e teses (como os testes de radiocarbono 14), enganam apenas aqueles que se querem enganar e nada contestam relativamente à palha que lhes dão.
É interessante ainda verificar como que com uma suposta descoberta tendenciosa e que nada prova, se coloque toda a veracidade da Bíblia em causa, mas com centenas de comprovações arqueológicas e não só (como algumas já postadas neste site), não se lhe dê valor nenhum como comprovativo do contrário, enfim, é este o mundo que vivemos...
Espero que este artigo tenha servido para demonstrar ao leitor como deve sempre questionar e investigar tudo que os mídia afirmam, pois como se vê quando se trata destes assuntos, eles são tudo menos confiáveis. 
E para terminar, mudando de animal, termino dizendo a todos que orgulhosamente propagaram esta notícia como se fosse a maior descoberta do mundo que nem todos gostamos de ser tratados como burros....
Abraço

 

Referências:

(1) Testes de radiocarbono 14 destroem Teoria da Evolução


(2) Arqueólogos descobrem centro da cidade suméria onde viveu Abraão

https://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2013-04-04/arqueologos-descobrem-centro-da-cidade-sumeria-onde-viveu-abraao.html

(3) Memphis: Terracotta UC 4802 


(4) Camel Domestication in the Ancient Near East

(5) André Parrot


(6) Kenneth Kitchen 

(7) Richard Bulliet

https://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Bulliet

(8) Camelo (Gênero Camelus)